Esse ano foi maravilhoso. Parece que toda aquela ladainha de carma realmente funcionou dessa vez, e me deu toda a alegria que eu nao tive no passado.
De uma forma bem distorcida, eu consigo ver cada ponto negativo dele como algo positivo, muito positivo. Eu sei que de certa forma meu sofrimento e minhas dores foram muitas, ou melhor, muito intensas, mas 2007 inteiro me dá cerca de mil razões para crer que esses sofrimentos estão em segundo, quarto, décimo plano. Como sempre, aprendi. Sobre meus limites, sobre as pessoas, sobre comportamentos e sofrimentos, mas nada disso me faz querer elaborá-los. Aprendi que nada na vida é para sempre e que a hora vai chegar. Hora de quê? De qualquer coisa. Nesse momento, chegou a hora de deixar minha infância, minha adolescencia aborrecente, minhas idéias e meus atos incautos para trás. Agora chegou a hora de seguir em um ano que vai determinar o meu futuro.
Seguir esse caminho pode ser cansativo, e eu já percebi que a tensão será gigante. Acho que sei o que esperar: Primeiro, muitas aulas. Aulas daquelas que parece que nunca vão acabar. Segundo, desvio mental. Ninguém consegue ter aulas 6 dias por semana e ainda conseguir sair com os amigos, que é basicamente tudo o que minha mente está pensando nesse momento. Terceiro, dúvidas. Vou duvidar de mim até não poder mais, vou me pegar pensando durante o dia sobre como eu vou conseguir ou fazer certas coisas. Mas vou lidar com isso, vou passar por cima, vou estar ávida para isso, tudo por causa da Maturidade, o Quarto desta lista. Que ela me encorpore, me envolva, me abrace e me prenda, para nunca mais sair. É com ela ao meu redor que eu vou conseguir ser a mulher que eu tanto sonhei ser quando pequena. E quinto: stress. Stress, stress e stress, miil vezes o stress. Vou virar amiga do stress, vou ser sua cúmplice, sua amante. Vou dormir com ele e acordar com ele, para passar o dia inteiro pensando nele. Pode parecer meio atroz, mas é a realidade, e acho que meu corpo e mente estão crescidinhos o suficiente para escutar a realidade.
Acho que esses cinco pontos do ano de 2008 me fazem ter uma visão meio inócua do que ele será. Eu sei o que vou pensar, sentir e querer, e também sei como vou agir, reagir ou imaginar. Mas acontece que isso não me parece suficiente. Acredito que a vida me cega para os pontos mais importantes, como uma noite qualquer decidindo o meu futuro antes de dormir, ou a angústia de fazer uma prova e não saber o resultado. E serão esses pontos que realmente vão fazer a diferença. Mas não sou masoquista, não gosto de sofrer por antecedência, então deixo esses momentos passarem, deixo-os para depois, eu confio em mim e acredito que nada irá me desviar desse caminho que desejo seguir.
Acho também que 2008 vai ser o ano onde as coisas vão tomar lugar, onde o tempo passando rápido vai ser normal, onde passar horas conversando sobre literatura, política ou biologia será agradável. Acredito que minha vontade de ser a melhor, a vontade de me surpreender, aquela sensação de auto-realização, tudo isso vai se revelar, pela primeira vez, nesse ano de 2008. E a primeira vez a gente nunca esquece.
Então, querido 2008, peço que me deixe pasma com todo o meu conhecimento, todo o meu sucesso, todo o meu sofrimento e toda a minha alegria. Espero que você faça jus ao que eu já tenho em mente, mas também espero que você se torne o mar leviano, o qual de uma hora para outra me engole com uma onda e me permite voltar a superfície com ainda mais vontade de viver. Espero que você me ensine, me mostre, me demonstre, me peça, me qualifique, me dê os meios, me mostre o caminho. Estou confiando em você para me moldar, me deixar melhor, mais matura, mais responsável, mais mulher.
Resumidamente: Eu nao tenho uma visão ruim do ano que está por vir. Mas também nao tenho uma visão boa. Estou neutra até então, pensando que nas horas ruins, eu irei me virar, e nas boas, comemorar. Por esse e muitos outros motivos, nada melhor do que fabuloso Charles Baudelaire para o motto desse ano:
Enivrez-Vous
Il faut être toujours ivre.
Tout est là:
c’est l’unique question.
Pour ne pas sentir
l’horrible fardeau du Temps
qui brise vos épaules
et vous penche vers la terre,
il faut vous enivrer sans trêve.
Mais de quoi?
De vin, de poésie, ou de vertu, à votre guise.
Mais enivrez-vous.
Et si quelquefois,
sur les marches d’un palais,
sur l’herbe verte d’un fossé,
dans la solitude morne de votre chambre,
vous vous réveillez,
l’ivresse déjà diminuée ou disparue,
demandez au vent,
à la vague,
à l’étoile,
à l’oiseau,
à l’horloge,
à tout ce qui fuit,
à tout ce qui gémit,
à tout ce qui roule,
à tout ce qui chante,
à tout ce qui parle,
demandez quelle heure il est;
et le vent,
la vague,
l’étoile,
l’oiseau,
l’horloge,
vous répondront:
“Il est l’heure de s’enivrer!
Pour n’être pas les esclaves martyrisés du Temps,
enivrez-vous;
enivrez-vous sans cesse!
De vin, de poésie ou de vertu, à votre guise.”